A Nossa Língua
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Sayonara, Aquiles

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Mensagem  Isabel Seg Jan 03, 2011 3:58 am

http://www.pglingua.org/opiniom/3130-sayonara-aquiles

Sayonara, Aquiles

Quinta, 30 Dezembro 2010 00:00

Por Arturo de Nieves

A história distante e recente do nosso país, assim como a realidade atual do mesmo, é tão triste e desesperante que o humor passou a fazer parte, quase invariavelmente, do código genético das pessoas que, por sorte ou por titânico esforço diário, logram fugir, sequer ocasionalmente, da tão peçonhenta como confortável aranheira opiácea em que o poder multiforme do que surge o nosso lamentável status quo, amável e constantemente nos incita a repousar.

O mecanismo que inter-relaciona humor e sociedade é conhecido e é, como quase tudo quanto é na nossa sociedade, velho. Muito velho. Tão velho como o facto de os povos oprimidos tenderem à opacidade da rebeldia. Capoeira no Brasil, retranca na Galiza. Ambos fenómenos exemplificadores da mais pura e simples autodefesa. Contra o dano físico uma, contra o dano mental a outra.

O humor contra a dor. Nada novo, bem se vê. Como não é nova a aranheira a que aludia acima. Mito da caverna em Platão, Matrix no que uns dizem ultra, outros hiper, outros pós e, todos, sempre acabam em modernidade; ou o caralho 29, digo eu. Como se por empregarmos um ou um outro conceito provocássemos a mudança social correlativa. Conceitos mágicos capazes de ajeitarem a realidade ao seu significado, interessante ideia. Interessante ideia que devem partilhar aqueles que falam de bilinguismo harmónico ou cordial... ou restitutivo ou... sei lá...

E é que parece que neste país acabaremos por presenciar a vingança de Aquiles quem, reconstruindo-se a partir das suas cinzas, estilo Terminator, retornará para nos dizer que a fama há que trabalhá-la, i tant! –expressão que engadiria de se produzir o seu retorno vingativo na Catalunha e não na Galiza, ainda que daquela provavelmente não haveria vingança... assim que melhor o deixaremos num engraçado abofé; engraçado por contar com essa comicidade típica das dobragens da galega que tanto riso produzem, como nos explica o Facebook–.

Mas, enfim, o que eu queria dizer é que por muitos risos e por muita retranca e, inclusive, por muita capoeira que demonstrem aqueles mosquitos rebeldes a fugirem ocasionalmente da aranheira-caverna-matrix devandita, temo que não vá haver humor nem visita do Papa capaz de aliviar o abatimento provocado polo atual estado de destruição deliberada em que se acha a Galiza.

E agora falemos de políticas de I+D, de novos movimentos na crise sociolinguística, da vigência incrível do Manoel António mais lúcido e combativo, da crise sistémica, da crise das universidades ou da crise de legitimidade que afeta a nossa democracia. Falemos tod@s, que a mim sozinho se me faz realmente trágico e, portanto, doloroso.




Pois claro que o humor é arma defensiva, e bem usada, também pode ser ofensiva...

http://seioque.com/index.php/seestampassando/o-cheiro-do-dinheiro
http://seioque.com/index.php/main/apontem-me-fora-disso-proposta-de-coleti

Riamos um pouco e, sobretudo, falemos. Parabéns pelo bem escrito artigo, Arturo.
Isabel
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Mensagem  maria Seg Jan 03, 2011 11:56 am

Parabéns pelo artigo. O humor é uma arma poderosa, às vezes de defesa e outras de ataque. A nossa velha tradição do escarnho e do maldizer demostram. O engraçado é quando as ironias são interpretadas à letra. Estou a lembrar muitas interpretações literais das "Duas palavras da autora" com que Rosalia prologa Folhas Novas e em que fala, com muita retranca, da inconsistência e fraqueza do pensamento feminino. Relativamente a isto encontrei um artigo sobre um texto de Sor Juana Inés de la Cruz, a freira mexicana, em que fala de outras "estratégias de defesa" de quem está numa posição subalterna. Deixo-vos o link, por se têm curiosidade e vagar para o ler. Lembrar-se-ão de exemplos semelhantes.http://www.isabelmonzon.com.ar/ludmer.htm
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Mensagem  Isabel Seg Jan 03, 2011 2:19 pm

Ai, Maria, muito ri e também quase chorei a primeira vez que li esse prólogo... e o de Cantares, que é diferente, mas tem também a sua cousa... E continuo a desfrutá-los em cada releitura. Sabes quando eu li esses prólogos? Pois há poucos anos, muito depois de ler Os Lusíadas ou vários romances do finado Saramago. Pois é... Sempre fui uma ignorante em literatura galega. Mas quando soube deles, a risada foi ancestral Laughing Aquela mulher enorme estava a me fazer rir ou a rir comigo desde aquelas páginas amarelas das edições "perralheiras" que eu tinha daqueles livros... Impressionante.

Duas palavrazinhas da autora... como dous katanaços estilo The Bride em Kill Bill...


Sayonara, Aquiles Kill-bill-031



Tou lendo o que deixaste, obrigada.
Isabel
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Mensagem  Artur Seg Jan 03, 2011 7:40 pm

Muito obrigado por comentardes o meu artigo, caras. E, sim, não podo fazer mais do que concordar com que o humor é arma também de ataque. Acho que relerei estes dias os prólogos de Rosalia, que só li uma vez haverá uns 10 anos por semi-obriga docente.

Saúde!
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Mensagem  maria Ter Jan 04, 2011 7:08 am

Obrigada a ti por escreveres o artigo, Artur. Os prólogos de Rosalia são interessantíssimos de qualquer ponto de vista que se analisem. Eu até tive a pouca vergonha de apresentar uma comunicação num congresso sobre eles, há uns doze anos. E Rosalia tinha uma retranca... Eu também me rio muito com poemas como "São Antoninho, dade-me um homem", ou "A pobrinha que está surda", ou "Um repoludo gaiteiro". E, sobretudo com o de "Xan", en Folhas Novas, que é um magnífico exemplo do que tu explicas no artigo. É o mundo ao contrário, uma estratégia muito eficaz para mostrar a verdade que os hábitos e as convenções sociais ocultam. Relativamente à língua lembram aquela "Fábula del castellano parlante", uma carta ao diretor que apareceu na Voz em 1989 e que depois publicou Manuel Portas em "Língua e sociedade na Galiza"?
http://www.blogoteca.com/galefas/index.php?cod=57435
Rosalia a katanaços... muito bom. Mas acredita, Isabel, que encontrei interpretações literais das palavras de Rosalia-santinha. Como não ver a retranca de "O pensamento da muller é lixeiro, góstanos com'âs borboletas, voar de rosa en rosa, sobr'as cousas tamen lixeiras, etc"?
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Mensagem  Isabel Ter Jan 04, 2011 8:04 am

Em-que me mate, em-que me esfole... para esmendrelhar-se... Laughing

A pobrinha que está surda sabe-o minha mãe de memória, junto com quase todos os outros das Folhas Novas, os Cantares já não os conhece tanto... Mas eu adormecia arrolada por aqueles contos que ela contava como se fossem seus. Agora já não mos conta... se calhar é por isso que tenho tanta necessidade de ouvir histórias. Iria atrás de qualquer pessoa que me contasse uma boa história...

Li a análise que deixaste, muito boa. Trata-se de algo semelhante, mas há que reconhecer que Rosalia era algo menos monja que a Sor Juana... Rosalia não tem de aceitar superioridade nenhuma mais que a que ela quiser aceitar. Mais bem a sua retranca parece cousa cultural, por aquilo de dizer as verdades de maneira elegante. Tem as suas vantagens a elegância, a mais imediata é que para superá-la o contrário tem de ser ainda mais elegante ou então quem fica "mal" (deselegante) é ele...

Como não deixar ao género masculino pelo chão ao afirmar com tanta serenidade e inocência que o pensamento voa apesar das cadeias que se lhe ponham?

E que bom esse texto do mundo ao revés, acho que é táctica que já foi usada no reintegracionismo... agora não lembro onde, a ver se faço memória...

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Mensagem  maria Ter Jan 04, 2011 12:34 pm

Sor Juana era freira para bem, porque o convento a livrou do matrimónio, e para mal, porque estar numa ordem religiosa a submetia a uma hierarquia. A sua paixão pelo conhecimento e a maneira em que literaturiza essa ânsia de saber é admirável. Mas isto já dá para outra conversa. Apesar de tudo, Rosalia era mais rebelde e mais livre.
Vê lá se te lembras desse texto do mundo ao contrário feita desde o reintegracionismo.
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Mensagem  Isabel Ter Jan 04, 2011 3:29 pm

Aqui está!

http://www.pglingua.org/foros/viewtopic.php?f=1&t=2196

Mas esse era o exemplo mais recente... havia mais... houve mais pessoas que escreveram, não sei se textos ou comentários nesse sentido, de dar-lhe a volta ao conto e ficar muito engraçado...

Monja ou freira, não acho que isso seja bom para a saúde, Maria. Sor Juana, pobre, devia ter nascido noutra época, ou dedicar-se ao conhecimento indígena...
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Mensagem  maria Qua Jan 05, 2011 2:43 pm

O comentário está bem. Os comentários ao comentário... Pardiez! Cuánta hostilidad! (não tenho pontos de exclamação iniciais no teclado).
Isto tudo lembrou-me um outro exemplo bem retranqueiro, uma canção que A Quenlha fez sobre um poema de Manuel Maria. O poema é do ano 55, acho, e a canção, de 88, tem uma pequena introdução que Mero fez depois de ouvir umas declarações de Paco el Vázquez.
https://www.youtube.com/watch?v=gRGdNJ8io1E
E sobre Sor Juana, contudo é uma delícia ler os seus escritos e uma interrogante constante conhecer a sua biografia.
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