Só música clássica
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Só música clássica
Com o solstício de inverno renasce o sol, como também renascem os foros.
Abro o fio com o maravilhoso amanhecer do Strauss:
Abro o fio com o maravilhoso amanhecer do Strauss:
Nambuangongo- Mensagens : 188
Data de inscrição : 25/12/2010
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Abro a minha participação neste fio com.....uma abertura.
Morcego- Mensagens : 48
Data de inscrição : 25/12/2010
A morte de Aase da Suite No. 1, Op. 46 de Peer Gynt do compositor norueguês Edvard Grieg
4/4, negra = 50, si menor
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
A dança de Anitra
da Suíte 1 de Peer Gynt do compositor norueguês, Edvard Grieg.
Tempo Di Mazurka
(3/4, negra = 160, Lá menor)
Tempo Di Mazurka
(3/4, negra = 160, Lá menor)
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Aí está, Robert de Visée, quem pudera ser Roberto de Viseu (sic), português, não é um músico "clássico", mas da época barroca, do barroco francês. Corte de Luís XIV, um moço quando Lully morreu.
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_de_Vis%C3%A9e
Por falta de informação e também de formação musical, a gente tende a meter dentro de categorias absurdas, como essa de "música clássica", um monte de música que de clássica não tem nada, antes é o contrário do classicismo, tanto no espírito quanto na forma, no carácter e na execução... Não há mais que ver ao alaudista (o alaúde não é um instrumento "clássico").
Entende-se por música clássica aquela que foi composta seguindo os aspectos estilísticos da época clássica, que na história da música compreende aproximadamente a segunda metade do século XVIII, desde a morte de Bach até as primeiras composições de Beethoven... com excepções honrosas como as da música de guitarra do primeiro terço do XIX...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_cl%C3%A1ssico_%28m%C3%BAsica%29
Que o facto de chamar a esse curto período de "clássico" é produto de uma visão centralista europeia, baseada nos mitos alemães como semente musical de todo o continente e nascimento da "cultura" europeia moderna. Pois é.
Que confundir "clássico" com "erudito" por oposição a "tradicional" ou "popular" é, para além de um grave erro de conceito refutável com os dados, uma ideia elitista nascida do mesmo centralismo europeu cujos paradigmas hoje estão bastante vindos a menos. Pois também.
Mas não alimentemos essas confusões que nada contribuem à nossa sensibilidade como pessoas e sim acrescentam a sensação de não estarmos a seguir o fio do filme...
É opinião, naturalmente.
http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_de_Vis%C3%A9e
Por falta de informação e também de formação musical, a gente tende a meter dentro de categorias absurdas, como essa de "música clássica", um monte de música que de clássica não tem nada, antes é o contrário do classicismo, tanto no espírito quanto na forma, no carácter e na execução... Não há mais que ver ao alaudista (o alaúde não é um instrumento "clássico").
Entende-se por música clássica aquela que foi composta seguindo os aspectos estilísticos da época clássica, que na história da música compreende aproximadamente a segunda metade do século XVIII, desde a morte de Bach até as primeiras composições de Beethoven... com excepções honrosas como as da música de guitarra do primeiro terço do XIX...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_cl%C3%A1ssico_%28m%C3%BAsica%29
Que o facto de chamar a esse curto período de "clássico" é produto de uma visão centralista europeia, baseada nos mitos alemães como semente musical de todo o continente e nascimento da "cultura" europeia moderna. Pois é.
Que confundir "clássico" com "erudito" por oposição a "tradicional" ou "popular" é, para além de um grave erro de conceito refutável com os dados, uma ideia elitista nascida do mesmo centralismo europeu cujos paradigmas hoje estão bastante vindos a menos. Pois também.
Mas não alimentemos essas confusões que nada contribuem à nossa sensibilidade como pessoas e sim acrescentam a sensação de não estarmos a seguir o fio do filme...
É opinião, naturalmente.
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
No Antro do Rei da Montanha
da Suíte número 1 de Peer Gynt
O compositor vai selecionar mais tarde esta peça em Si menor, em 4/4, Alla marcia e molto marcato , depois più vivo e, finalmente, stringendo al fine, para formar o movimento final da primeira das duas suítes, op. 46.
A sua estrutura é:
A1 (A1, a'1 - a2, a'2 - A1, A3) - A2 (b1, b'1 - b2, b'2 - B1, B3) - A3 (c1, c'1 - c2, c '2 - c1, c3) - Coda (no final do c3).
A sua estrutura é:
A1 (A1, a'1 - a2, a'2 - A1, A3) - A2 (b1, b'1 - b2, b'2 - B1, B3) - A3 (c1, c'1 - c2, c '2 - c1, c3) - Coda (no final do c3).
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Isabel,
É curioso que também me ocorreu em fazer a associação entre Visée e Viseu, desconhecendo que havia quem defendesse essa tese..
Conheço francamente mal a história da música, ao ponto de ser incapaz de reconhecer as distinções que assinalaste. Para facilitar as coisas, este fio, quiçá, poderá ser de música clássica e erudita. Pode ser? Obrigado pelos teus esclarecimentos. Estamos sempre a aprender....o que é bom!
É curioso que também me ocorreu em fazer a associação entre Visée e Viseu, desconhecendo que havia quem defendesse essa tese..
Conheço francamente mal a história da música, ao ponto de ser incapaz de reconhecer as distinções que assinalaste. Para facilitar as coisas, este fio, quiçá, poderá ser de música clássica e erudita. Pode ser? Obrigado pelos teus esclarecimentos. Estamos sempre a aprender....o que é bom!
Morcego- Mensagens : 48
Data de inscrição : 25/12/2010
Rapto e lamento de Ingrid
da Suíte nº 2, op. 55, escrita em 1891
Allegro Furioso – Andante Doloroso
(Alternâncias de 2/4, negra = 160 e ¾, negra = 60, Sol menor)
Allegro Furioso – Andante Doloroso
(Alternâncias de 2/4, negra = 160 e ¾, negra = 60, Sol menor)
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Por exemplo, a de Grieg é música romântica baseada em temas populares e com vontade de criar um estilo "nacional", ou seja, de fazer uma imagem sonora de um país, neste caso a Noruega.
Infelizmente não conheço nenhum compositor clássico norueguês. Mas algum tinha de haver, que se no XVII Dowland foi servir ao rei de Dinamarca, a Noruega não podia ficar atrás... Algum músico, mesmo que não fosse norueguês, teria de estar tocando e compondo e dirigindo lá. E deixaria alguma escola, ou algum aluno, mesmo que fosse só um...
Pois nenhum, não conheço nenhum anterior ao século XIX.
Mesmo que fosse um humilde E BARROCO OU RENASCENTISTA tocador de alaúde! Alguém sabe?
O que haverá serão cancioneiros de música tradicional, imagino, mas também não conheço nenhum...
http://en.wikipedia.org/wiki/Music_of_Norway
Infelizmente não conheço nenhum compositor clássico norueguês. Mas algum tinha de haver, que se no XVII Dowland foi servir ao rei de Dinamarca, a Noruega não podia ficar atrás... Algum músico, mesmo que não fosse norueguês, teria de estar tocando e compondo e dirigindo lá. E deixaria alguma escola, ou algum aluno, mesmo que fosse só um...
Pois nenhum, não conheço nenhum anterior ao século XIX.
Em seus primeiros anos, o domínio dinamarquês teve conseqüências muito negativas para a Noruega. Seu poderio militar decaiu, a língua dinamarquesa substituiu gradualmente o norueguês, foi imposto o luteranismo, e numerosos dinamarqueses ocuparam terras e cargos públicos no país. No século XVII, a Noruega foi arrastada para os conflitos europeus, perdendo a Jämtland (1645) e Trondheim (1658) para a Suécia. O ressurgimento do comércio pesqueiro, o desenvolvimento da mineração e a indústria madeireira, no século XVIII, estimularam a consciência nacional e os noruegueses começaram a pedir autonomia política.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Noruega
Mesmo que fosse um humilde E BARROCO OU RENASCENTISTA tocador de alaúde! Alguém sabe?
O que haverá serão cancioneiros de música tradicional, imagino, mas também não conheço nenhum...
http://en.wikipedia.org/wiki/Music_of_Norway
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Re: Só música clássica
Teriam de ser estes, mas u-los nomes?
Classical music
The first classical composers from Norway are documented from the beginning of the 18th century, when they composed dance and chamber music, including cantatas. In 1814, Sweden entered into a union with Norway, and the Swedish royal family spent time in Norway's capital, Christiania, Norway (Oslo). At their royal court, music flourished.
http://en.wikipedia.org/wiki/Music_of_Norway
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Re: Só música clássica
Cara Isabel, não leves a mal o que vou dizer. Quando Nambuangongo abriu esta enfiada estou certo que não se referia a uma época determinada polos historiadores da música culta que, por outro lado, é bem artificiosa como bem sabes [Bach barroco?, Bach clássico?, Bach romántico?, Bach nacionalista? Está claro que a teor das datas de nascimento e morte do gigante de Eisenach é um compositor barroco mas, isso é o que conta na música de Johann Sebastian Bach? Acho que as datas de nascimento e morte não têm muita importância. Bach é muito mais contemporâneo nosso que muitos músicos de rock, jazz.
A música, como a filosofia, queridinha, não tem história. Há apenas historia dos músicos, mas isso é uma outra cousa bem diferente.
Continuo, com a vossa permisão, com a bela música do compositor de Bergen.
http://www.noruega.org.br/About_Norway/culture/Artistas-Noruegueses-de-renome/O-compositor-Edvard-Grieg/
A música, como a filosofia, queridinha, não tem história. Há apenas historia dos músicos, mas isso é uma outra cousa bem diferente.
Continuo, com a vossa permisão, com a bela música do compositor de Bergen.
Dança árabe.
Allegretto Vivace
4/4, negra = 132, Dó maior
Grieg acreditava fortemente na importância da música na sociedade. Em diversas ocasiões, realizou concertos gratuitos para trabalhadores e para os pobres, tendo escrito depois de um deles: «Esta noite representa a concretização de um sonho da minha juventude: que, tal como na antiga Grécia, a arte deveria chegar a todos, precisamente porque … comunica de coração para coração. […] Que a arte possa pertencer ao povo!.
Tirado de O compositor Edvard Grieg na página da Embaixada Real da Noruega e Real Consulado Geral da Noruega
Allegretto Vivace
4/4, negra = 132, Dó maior
Grieg acreditava fortemente na importância da música na sociedade. Em diversas ocasiões, realizou concertos gratuitos para trabalhadores e para os pobres, tendo escrito depois de um deles: «Esta noite representa a concretização de um sonho da minha juventude: que, tal como na antiga Grécia, a arte deveria chegar a todos, precisamente porque … comunica de coração para coração. […] Que a arte possa pertencer ao povo!.
Tirado de O compositor Edvard Grieg na página da Embaixada Real da Noruega e Real Consulado Geral da Noruega
http://www.noruega.org.br/About_Norway/culture/Artistas-Noruegueses-de-renome/O-compositor-Edvard-Grieg/
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Claro, eu sei. Precisamente por isso acho que devo dizer o que digo. Ou então quem?
Eu sei que o caro Nambu estava pensando em música "erudita", classificação que é também uma impostura ideológica das elites, porque, que música não é elaborada? Até a tradição popular está em constante processo de renovação e peneira dos seus conteúdos. A gente é exigente, ao povo não lhe vale uma caralhada qualquer, a música para ser cantada pela gente tem de cumprir uma série de exigências musicais e sonoras bastante especiais e concretas.
A música tradicional não é como uma peneira mal feita. É uma peneira MUITO BEM FEITA. É muito erudita e passou a prova de fogo: o tempo, os séculos que passaram por ela deixando-a intata, já que foi desbotando aquelas escolhas piores.
Por isso e por tantas outras cousas não faz sentido categorizar as músicas e menos essa ideia da "música clássica", que é como se a música necessitasse de esse adjetivo "clássica" para ser séria, ou para ser levada a sério.
Eu sei que não é o caso teu, nem o do caro Nambu, nem o de nenhuma das que alimentamos estes fios. Aqui há boa vontade, naturalmente! Mas era só uma opinião... que acho devia ser dita...
Eu sei que o caro Nambu estava pensando em música "erudita", classificação que é também uma impostura ideológica das elites, porque, que música não é elaborada? Até a tradição popular está em constante processo de renovação e peneira dos seus conteúdos. A gente é exigente, ao povo não lhe vale uma caralhada qualquer, a música para ser cantada pela gente tem de cumprir uma série de exigências musicais e sonoras bastante especiais e concretas.
A música tradicional não é como uma peneira mal feita. É uma peneira MUITO BEM FEITA. É muito erudita e passou a prova de fogo: o tempo, os séculos que passaram por ela deixando-a intata, já que foi desbotando aquelas escolhas piores.
Por isso e por tantas outras cousas não faz sentido categorizar as músicas e menos essa ideia da "música clássica", que é como se a música necessitasse de esse adjetivo "clássica" para ser séria, ou para ser levada a sério.
Eu sei que não é o caso teu, nem o do caro Nambu, nem o de nenhuma das que alimentamos estes fios. Aqui há boa vontade, naturalmente! Mas era só uma opinião... que acho devia ser dita...
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Re: Só música clássica
Isabel, foi dito muito bem. Naturalmente que a música, como qualquer outra das artes, está sujeita às padronizações impostas pola cultura dominante. É por isso que tentam por todos os meios afastar o povo das maravilhosas criações do espírito humano.
Quero lembrar três anedotas que vale a pena mencionar.
1.- Disse-me o Manuel Maria uma vez na minha casa passando dias de féria junto com a Saleta, “mira, André, se não tivesse existido Rosalia e apenas conservássemos a poesia tradicional chegaria bem como a mais alta expressão do nosso ser no mundo. Achas, por acaso, que há mais alta poesia que aquela cantiga popular que diz:
Quero lembrar três anedotas que vale a pena mencionar.
1.- Disse-me o Manuel Maria uma vez na minha casa passando dias de féria junto com a Saleta, “mira, André, se não tivesse existido Rosalia e apenas conservássemos a poesia tradicional chegaria bem como a mais alta expressão do nosso ser no mundo. Achas, por acaso, que há mais alta poesia que aquela cantiga popular que diz:
Lembras-te, minha amada,
daquela noite de verão?
Tu contavas as estrelas
eu, as areinhas do chão.”
daquela noite de verão?
Tu contavas as estrelas
eu, as areinhas do chão.”
2.- Escuitando um concerto de Milhadoiro, quando a gente pedia mais outra peça, um dos músicos – não lembro seu nome – disse ao público que a peça que haviam de interpretar a continuação era uma das músicas mais fermosas que se tinham nunca composto, que o seu compositor nunca estudara em conservatório nenhum e que essa peça se estivesse no catálogo de Mozart teria sido considerada uma das mais elevadas expressões do espírito (mas, Avelino Cachafeiro nunca teve um Ludwig von Köchel nem um Johann Nikolaus Forkel que estudasse e historiasse a sua vida como este último fez com Johann Sebastian Bach!). Embora, eu não dudo de nenhuma das maneiras que a Moinheira de Chantada é música culta. Claro, e da mais elevada composição [quero que se me entenda, não quero comparar, nem de longe, a Avelino Cachafeiro com Mozart ou Bach. Quando se fala dum músico capaz de compor o Réquiem em Ré menor ou a Paixão segundo São Mateus,, está claro que estamos a falar de uma outra história]
3.- Uma vez olhei chorar uma senhora quando escuitava a Tocata e Fuga em Ré Menor tangida no órgão da catedral de Alcalá de Henares. Minha mulher perguntou-lhe se algo lhe passava e ela diz somente “é que esta música...”. Perguntei-lhe se sabia de quem era a música e ela respostou-me em castelhano “Ai, filhinho, quando era pequena na Alcárria tinha que ir pastorear ovelhas e não pude ir à escola” A senhora era analfabeta!
Estas anedotas fazem repensar a sério tanto o mundo no que nos tocou viver, quanto as classificações taxidérmicas que nos impõem sem muitas vezes darmos conta. Eis porque a tua resposta vem à tona.
Muito obrigado, Isabel. Fique com bem, queridinha.
(Tento me exforçar no Facebook postando música da chamada “culta” para os meus amigos... e todo o resto da gente mas, não sei quanto hei durar).
3.- Uma vez olhei chorar uma senhora quando escuitava a Tocata e Fuga em Ré Menor tangida no órgão da catedral de Alcalá de Henares. Minha mulher perguntou-lhe se algo lhe passava e ela diz somente “é que esta música...”. Perguntei-lhe se sabia de quem era a música e ela respostou-me em castelhano “Ai, filhinho, quando era pequena na Alcárria tinha que ir pastorear ovelhas e não pude ir à escola” A senhora era analfabeta!
Estas anedotas fazem repensar a sério tanto o mundo no que nos tocou viver, quanto as classificações taxidérmicas que nos impõem sem muitas vezes darmos conta. Eis porque a tua resposta vem à tona.
Muito obrigado, Isabel. Fique com bem, queridinha.
(Tento me exforçar no Facebook postando música da chamada “culta” para os meus amigos... e todo o resto da gente mas, não sei quanto hei durar).
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
Pois o certo é que tenho a sensação de não me ter explicado... As classificações são muitas vezes necessárias, mas digamos para resumir que quando vejo a placa de "clássico" vejo algo que não faz sentido mais que no aspeto sociológico: que imagem se dá dessa música, que tipo de público-comprador procura, enfim, as pautas do mercado para a inexistente música "classica"... Essas pautas não podem entrar nas nossas vidas como se tivessem direito a um espaço próprio! Não deveríamos conformar-nos com essa imagem dos músicos e de certas músicas (todas diferentes, em contextos diferentes, amiúde de épocas e estilos diferentes). É um estereótipo que me esforço por combater...
A cobra que deixa é formosíssima, sim. E como ela há mais sobre todo tipo de temas, subtis e poéticas. O mesmo acontece com a música, que há melodias tão lindas ou mais quanto as escritas por Monteverdi ou Bellini: https://www.youtube.com/watch?v=X8-wROWHqkI
Naturalmente, para compor como Monteverdi e Bellini é preciso fazer mais do que uma melodia. E para fazer uma missa para orquestra e coro comprem mais estudos do que para fazer um prelúdio para piano ou para gaita.
Sobre essa senhora da Alcárria... é magnífico perceber como a música emociona, não é? Há quem está fechado a esses movimentos humanos, invisíveis pelo geral, mas as cousas fazem-se porque mexem com a gente, porque têm o seu efeito. Há quem trata a música como uma droga, nesse caso eu estou completamente viciada.
A capacidade de emoção não tem a ver com o nível de estudos académicos da pessoa, mas com o nível de sensibilidade, de capacidade de apreciação, que essa pessoa atingiu na sua vida. Sabe-se que em muitos casos a educação académica abafa a sensibilidade artística...
Obrigada eu, Joanlogo. Normalmente não nos damos conta das camisas de força conceituais que nos ensinaram. Por isso há quem promove o aprender a desaprender. Temos de desaprender, deconstruir, muito pensamento formado em forma bastante rígida para poder desfrutar de outra maneira das cousas.
Os seus post musicais no Facebook são ótimos, é o senhor um grande melómano e conhecedor do que gosta. Parabéns.
A cobra que deixa é formosíssima, sim. E como ela há mais sobre todo tipo de temas, subtis e poéticas. O mesmo acontece com a música, que há melodias tão lindas ou mais quanto as escritas por Monteverdi ou Bellini: https://www.youtube.com/watch?v=X8-wROWHqkI
Naturalmente, para compor como Monteverdi e Bellini é preciso fazer mais do que uma melodia. E para fazer uma missa para orquestra e coro comprem mais estudos do que para fazer um prelúdio para piano ou para gaita.
Sobre essa senhora da Alcárria... é magnífico perceber como a música emociona, não é? Há quem está fechado a esses movimentos humanos, invisíveis pelo geral, mas as cousas fazem-se porque mexem com a gente, porque têm o seu efeito. Há quem trata a música como uma droga, nesse caso eu estou completamente viciada.
A capacidade de emoção não tem a ver com o nível de estudos académicos da pessoa, mas com o nível de sensibilidade, de capacidade de apreciação, que essa pessoa atingiu na sua vida. Sabe-se que em muitos casos a educação académica abafa a sensibilidade artística...
Joanlogo escreveu:
Estas anedotas fazem repensar a sério tanto o mundo no que nos tocou viver, quanto as classificações taxidérmicas que nos impõem sem muitas vezes darmos conta. Eis porque a tua resposta vem à tona.
Muito obrigado, Isabel. Fique com bem, queridinha.
(Tento me exforçar no Facebook postando música da chamada “culta” para os meus amigos... e todo o resto da gente mas, não sei quanto hei durar).
Obrigada eu, Joanlogo. Normalmente não nos damos conta das camisas de força conceituais que nos ensinaram. Por isso há quem promove o aprender a desaprender. Temos de desaprender, deconstruir, muito pensamento formado em forma bastante rígida para poder desfrutar de outra maneira das cousas.
Os seus post musicais no Facebook são ótimos, é o senhor um grande melómano e conhecedor do que gosta. Parabéns.
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
O regresso de Peer Gynt
Da Suíte nº 2 de Peer Gynt
Allegro Agitato
(6/8, noire com ponto = 126, Fá# menor)
Allegro Agitato
(6/8, noire com ponto = 126, Fá# menor)
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Canção de Solveig
Andante - Allegretto Tranquillamente
(alternâncias de 4/4, negra = 72 em Lá menor e de 3/4, negra = 120 em Lá Maior)
(alternâncias de 4/4, negra = 72 em Lá menor e de 3/4, negra = 120 em Lá Maior)
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Jean-Jacques Rousseau e a música
Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de junho de 1712 — Ermenonville, 2 de julho de 1778) é muito mais conhecido como filósofo e pensador político que como teórico da música e compositor. Que pessoa, minimamente formada, não tem lido o Discurso sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Entre Homens, o Emílio, ou Da Educação o romance A Nova Heloísa ou o Contrato Social?
Muito menos conhecidos são os seus trabalhos em volta da música, seja como teórico, seja como compositor.
Ele é provavelmente menos músico que filósofo e teórico político e ainda muito menos como o inventor de um sistema de notação musical. No entanto, nessa empresa empenhou os seus dous primeiros textos teóricos: Projet concernant de nouveaux signes pour la musique (1742) [Projeto para nova notação musical, 1742] e a Dissertation sur la musique moderne (1743) [Ensaio sobre a Música Moderna (1743)]. O primeiro texto, de longe o mais curto dos dous, é uma proposta à Academia de Ciências. Os comissários encarregados de examinar o sistema de escrita proposta pola Convenção de Genebra não eram tão entusiasmados quanto ela esperava. Eles viram a mesma cousa - erradamente - a simples reiteração de uma notação desenvolvida no século anterior por Jean-Jacques Souhaitty. As acusações - algumas injustificadas - dos comissários da Academia, levou Rousseau a publicar um segundo texto, o Ensaio sobre a música moderna, destina-se a ambos os defender e corrigir o sistema de classificação descrito no projeto.
Eis a ligação com o texto em francês e tradução a par para inglês:
http://www.normanschmidt.net/Rousseau.htm
Em relação com a teoria musical são de salientar a LETTRE SUR LA MUSIQUE FRANÇAISE. 1752. Forneço para o leitor curioso a ligação com o texto em francês
http://www.chmtl.indiana.edu/tfm/18th/ROULET_TEXT.html
E uma tradução para português:
[url]http://www.unicamp.br/~jmarques/trad/ROUSSEAU-Carta_sobre_a_musica_francesa.pdf [/url]
Ainda o genebrino deu ao prelo o DICTIONNAIRE DE MUSIQUE PAR J. J. ROUSSEAU. 1753 -1764, décembre. (eis o link:
http://rousseaustudies.free.fr/Dictionnairemusique.html
E em 1781, três anos após a sua morte, viu a lume o ESSAI SUR L'ORIGINE DES LANGUES, où il est parlé de la Mélodie, et de l'Imitation musicale.
http://classiques.uqac.ca/classiques/Rousseau_jj/essai_origine_des_langues/origine_des_langues.pdf
Nesta obra Jean-Jacques Rousseau coloca a melodia antes da música, pois permite a humanização do homem natural, enquanto nega qualquer valor para a harmonia da emoção. A melodia é a transcrição das paixões humanas expressas polos homens por meio da música, especificamente definidas por sua perfectibilidade, isto é, sua capacidade de adquirir e desenvolver todas as faculdades e a imaginação, improvisando sua história em uma temporalidade não predeterminada por qualquer harmonia mais ou menos pitagórica.
Deixo cá Abertura de Le Devin du Village, ópera num ato estreada em 18 de outubro de 1752 no castelo de Fontainebleu ante Louis XV e a corte.
Veja-se a analise em:
http://jean-claude.brenac.pagesperso-orange.fr/ROUSSEAU_DEVIN.htm
Muito menos conhecidos são os seus trabalhos em volta da música, seja como teórico, seja como compositor.
Ele é provavelmente menos músico que filósofo e teórico político e ainda muito menos como o inventor de um sistema de notação musical. No entanto, nessa empresa empenhou os seus dous primeiros textos teóricos: Projet concernant de nouveaux signes pour la musique (1742) [Projeto para nova notação musical, 1742] e a Dissertation sur la musique moderne (1743) [Ensaio sobre a Música Moderna (1743)]. O primeiro texto, de longe o mais curto dos dous, é uma proposta à Academia de Ciências. Os comissários encarregados de examinar o sistema de escrita proposta pola Convenção de Genebra não eram tão entusiasmados quanto ela esperava. Eles viram a mesma cousa - erradamente - a simples reiteração de uma notação desenvolvida no século anterior por Jean-Jacques Souhaitty. As acusações - algumas injustificadas - dos comissários da Academia, levou Rousseau a publicar um segundo texto, o Ensaio sobre a música moderna, destina-se a ambos os defender e corrigir o sistema de classificação descrito no projeto.
Eis a ligação com o texto em francês e tradução a par para inglês:
http://www.normanschmidt.net/Rousseau.htm
Em relação com a teoria musical são de salientar a LETTRE SUR LA MUSIQUE FRANÇAISE. 1752. Forneço para o leitor curioso a ligação com o texto em francês
http://www.chmtl.indiana.edu/tfm/18th/ROULET_TEXT.html
E uma tradução para português:
[url]http://www.unicamp.br/~jmarques/trad/ROUSSEAU-Carta_sobre_a_musica_francesa.pdf [/url]
Ainda o genebrino deu ao prelo o DICTIONNAIRE DE MUSIQUE PAR J. J. ROUSSEAU. 1753 -1764, décembre. (eis o link:
http://rousseaustudies.free.fr/Dictionnairemusique.html
E em 1781, três anos após a sua morte, viu a lume o ESSAI SUR L'ORIGINE DES LANGUES, où il est parlé de la Mélodie, et de l'Imitation musicale.
http://classiques.uqac.ca/classiques/Rousseau_jj/essai_origine_des_langues/origine_des_langues.pdf
Nesta obra Jean-Jacques Rousseau coloca a melodia antes da música, pois permite a humanização do homem natural, enquanto nega qualquer valor para a harmonia da emoção. A melodia é a transcrição das paixões humanas expressas polos homens por meio da música, especificamente definidas por sua perfectibilidade, isto é, sua capacidade de adquirir e desenvolver todas as faculdades e a imaginação, improvisando sua história em uma temporalidade não predeterminada por qualquer harmonia mais ou menos pitagórica.
Deixo cá Abertura de Le Devin du Village, ópera num ato estreada em 18 de outubro de 1752 no castelo de Fontainebleu ante Louis XV e a corte.
Veja-se a analise em:
http://jean-claude.brenac.pagesperso-orange.fr/ROUSSEAU_DEVIN.htm
Joanlogo- Mensagens : 177
Data de inscrição : 26/12/2010
Idade : 69
Re: Só música clássica
"A capacidade de emoção não tem a ver com o nível de estudos académicos da pessoa, mas com o nível de sensibilidade, de capacidade de apreciação, que essa pessoa atingiu na sua vida. Sabe-se que em muitos casos a educação académica abafa a sensibilidade artística..."
Que grande verdade, Isabel. Eu não percebo patavina de música, mas tenho de lhe agradecer à minha nai que me criasse rodeada de música de todos os géneros e que me transmitisse essa mesma ideia que tu exprimes. Por alguma razão a minha família tem a alcunha das "cotovias": temos uma perceção muito musical do mundo. E logo foste a escolher o "Alalá das Marinhas", que é uma melodia (e as suas belíssimas quadras) que creio que já conhecia antes de nascer. Vê-se o mar das Marinhas desde essa peça.
O que dizes sobre o facto de a educação académica abafar a sensibilidade artística também se pode dizer sobre a literatura. Lembro à minha professora de Medieval a nos dizer que depois de passar pela universidade a nossa vivência da literatura nunca voltaria a ser a mesma. Isto dito como se fosse uma sentença de morte. O Otero Pedraio falava em Arredor de si da "cultura dos que têm medo de ficar sós com um livro ou sem livro perante a interrogante interior".
Obrigada pelas maravilhosas músicas que estão a postar. Eu vou deixar uma que gosto especialmente. A Isabel já escreveu o nome do autor, John Dowland. São as suas lágrimas...
https://www.youtube.com/watch?v=LCfhqh0u20c
https://www.youtube.com/watch?v=f7vLOjzG4no
Que grande verdade, Isabel. Eu não percebo patavina de música, mas tenho de lhe agradecer à minha nai que me criasse rodeada de música de todos os géneros e que me transmitisse essa mesma ideia que tu exprimes. Por alguma razão a minha família tem a alcunha das "cotovias": temos uma perceção muito musical do mundo. E logo foste a escolher o "Alalá das Marinhas", que é uma melodia (e as suas belíssimas quadras) que creio que já conhecia antes de nascer. Vê-se o mar das Marinhas desde essa peça.
O que dizes sobre o facto de a educação académica abafar a sensibilidade artística também se pode dizer sobre a literatura. Lembro à minha professora de Medieval a nos dizer que depois de passar pela universidade a nossa vivência da literatura nunca voltaria a ser a mesma. Isto dito como se fosse uma sentença de morte. O Otero Pedraio falava em Arredor de si da "cultura dos que têm medo de ficar sós com um livro ou sem livro perante a interrogante interior".
Obrigada pelas maravilhosas músicas que estão a postar. Eu vou deixar uma que gosto especialmente. A Isabel já escreveu o nome do autor, John Dowland. São as suas lágrimas...
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Moses Mordecai Levy- Mensagens : 111
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