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A IDEOLOGÍA DAS LÍNGUAS ÚTEIS…

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Mensagem  paulo Dom Mar 06, 2011 6:12 am

Há tempo que me interesso por compartilhar este paradoxo que se constrói entre nós, a propósito da utilidade das línguas, que alguém pus a andar em qualquer altura e que age aínda para desespero de muitos .

DESESPERO maiormente botado a andar por sua vez entre aqueles que intentam voluntariosamente a aprendizagem de línguas “muito extensas e úteis”, nomeadamente o inglês, considerado língua franca internacional (não duvido que o seja) que supositadamente abre todas as portas e é chave para tirar-nos da estupidez, se calhar genética, que se supõe a espanhóis, galegos, não assim aos portugueses, e em geral a qualquer possuidor do bilhete de identidade das espanhas todas.

AS LÍNGUAS ÚTEIS são em si próprias uma ideología, ou partem dela. A ideia fundamenta-se em que uma língua é útil quando a falam cem, duzentos, quatrocentos milhões de pessoas. Na realidade isto acocha uma trampa: o domínimo duma língua que conhecem milhões de pessoas não che dá uma vantagem competitiva; antes bem: põe-te em igualdade de condições e bota-te fóra do mercado se outros conhecimentos teus foram superados pelas pessoa que concorrem em tua competência. Um exemplo disto: se eu for um engenheiro em telecomunicações galego com maravilhoso expediente académico e falasse checo ou finês, com quanta gente havia competir?; mas se domino a “chave que abre todas as portas”, quer dizer, se falo um correto inglês… quantas pessoas que possuam essa língua não darão aberto a porta e fechado logo com ferrolhos e trebelhos para ninguém mais poder aceder ao dominio mundial das cousas todas…???

EU FAÇO MINHA LÍNGUA ÚTIL : Quando sou governo autónomo da Galiza e ditamino que todas as aulas da educação superior na Galiza vão ser redigidas em galego; quando exijo o conhecimento do galego para o acesso à Função Pública ou a contratar com a Administração qualquer trabalho, estou a fazer minha língua já nem útil, mas imprescindível; se parto de que a língua é inútil, fáço-a inútil. Sou eu quem decido, e faço-o, com evidência manifesta, dum ponto de partida ideologizado. Isto é o que faz o governo da Junta da Galiza: descapitalizar a língua, logo volvê-la inútil na Galiza.
Sou eu, cidadão, quem faz útil a língua quando rejeito um produto oferecido fóra dela; sou eu quem faço útil minha língua no meu banco; na minha operadora de telemóvel. São eles os que vendem e aí é que posso fazer-lhes a armadilha.

LÍNGUAS DE FUTURO, O DEBATE DE SOBREMESA ANDAVA ERRADO quando falávamos em família se a língua do futuro ser o inglês ou o chinês é que vem a Merkel e diz-nos que lá sobejam os postos de trabalho para gente preparada –engenheiros, médicos,…- e aínda vai ser que o debate se nos vem abaixo: mudamos a matrícula para as aulas de alemão… e que seja o que o Deus quiser.

ACUMULAÇÃO DE RECURSOS A BAIXÍSSIMO CUSTO, RECUSADOS PELA IDEOLOGÍA QUE MANDA.
Acumular recursos lingüísticos é falar português (da Galiza) e espanhol (da Galiza também, claro!), e aínda aproveitar e desenferrujar aquele francés que mal que bem depreendestes no liceu há mil anos e acrescentaste com dous anos de aulas na Escola Oficial de Idiomas. O elevadíssimo custo moral, monetário, emocional, etc, etc, etc… de intentar dominar uma língua que nos é manifestamente hostil na aprendizagem (a algúms, a outros não), e refiro-me ao inglês, desactiva-se milagrosamente quando faz exercício o domingo à manhã na tua bicicleta estática ligando para a net a France 24 heures en directe, ou aínda a RTBF… E lendo à noitinha o maravilhoso romance do Possidónio, a “Materna Doçura”. Ao lado a caneta, para pegar na manhãzinha no Priberam e descubrir o que é uma beata (cabicha) ou que é um lambecús (ou por melhor dizer, um rafeiro ou bajulador).

E assim adiantamos, com o ouvido e a leitura, nas línguas que já não nos são alheias e podemos caminhar de passo firme pela América inteira, do Québec à Patagonia; do Chile ao Brasil, e em África (na altura não se recomenda, mas tempos virão) a metade dela é que pode ser visitada aínda a falar as línguas de Molière e Rosalía.
O dominio dos três romances mais falados aproxima-nos dos países nos que se falam tais línguas, mas também dos países onde não se falam mas, por aquilo da acumulação de recursos = possibilidade estatística de fazer dela alguma utilidade, acrescentar a muito possível conexão com individuos que falem, por a terem adquirido alguma delas eles próprios, qualquer das línguas que tu mal domines e nas que mal te possas fazer entender: um árabe de Tunez ou Algéria em Qatar, ou aínda um italiano em Austrália… É aí que a expectativa da acumulação de língua a baixíssimo custo faz sua função, e banimos a ideia da assumpção dum inglês como forma inexcusável para saír da casa.

SEM O INGLÊS NÃO VAS A NENHURES é a ideología que põe a angústia em milheiros de pessoas que provavelmente nunca vão viajar se não é em viagens organizadas por países exóticos, e nem vão precisar nunca o conhecimento desta língua para o seu medre profissional. A razão de pessoas na idade de jubilação, ou de gente do comum que tem a vida arranjada, a acreditarem de pés ligeiros nesta ideología constitui um mistério que nos achega dos expedientes X e dos homens de preto.

E AQUÍ O HOMEM DO MOMENTO, O DESIDEÓLOGO DO INGLÊS, QUE NOS ALÍVIA …






PD.: Percebestes já qual é o meu domínio do inglês??? albino
paulo
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Mensagem  Nambuangongo Dom Mar 06, 2011 12:14 pm

Duas conversas reais de vizinhos meus:


Um casal urbano desses que os domingos vão à casa dos pais na aldeia, estão a falar do filho que vem de passar o mês de julho no estrangeiro como bolseiro num programa de aprendizagem de idiomas:


MÃE:
O nosso [nome do filho] saiu-che-nos mui inteligente, já fala 5 idiomas!!!

AVÔ: Ai mulher!!!, pois quanto melhor teria sido que falasse algum menos e entendesse o galego, caralho!!!... que pra falar com ele leve-m'o demo se a nós não che nos fai falta um intérprete...!!!





Aluno de ESO na aula de inglês, depois da chamada de atenção da professora por estar sempre fazendo o palhaço.


PROFESSORA: Y tu a que vienes aquí????

ALUNO: A nada, se estou aquí é porque me obrigais, eu tenho-che bem que fazer na casa!!!

(risos dos companheiros)

PROFESSORA: Pero hombre, no ves que el inglés es una lengua muy importante?

ALUNO: Mire, senhorita, na minha casa falamos-lhe todos galego, e se já bastante nos custa entender-nos, não quero nem pensar se nos dá polo inglês.

(risos dos companheiros)

PROFESSORA: Pero no ves que el inglés es imprescindible para qualquier trabajo?

ALUNO: Trabalho? Trabalho tenho bastante na minha casa, e não necessito andar trabalhando pra ninguém, tenho 110 hectáreas de pastiçais e nelas pascem 80 vacas.... e nenhuma delas fala inglês!!!!

(muitos mais risos dos companheiros)


O rapaz em questão não tem nada de parvo, e sim uma retranca brutal. Isso aconteceu há mais de 10 anos, atualmente ele sozinho gestiona com grande sucesso o seu negócio agrícola, que não sabe de crises, sem nunca ter estado na fila dos desempregados. Continua sem saber inglês, gasta o tempo em outro tipo de formação mais útil.
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