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“Português tornou-se numa língua profissional”

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“Português tornou-se numa língua profissional” Empty “Português tornou-se numa língua profissional”

Mensagem  Nambuangongo Ter Jan 25, 2011 8:14 pm

Uma década depois da transferência, o idioma luso continua a interessar e a atrair cada vez mais aprendizes. A DSEJ confirma: nos cursos leccionados pelo Centro de Difusão de Línguas tem-se registado um crescimento de nove por centro ao virar de cada ano lectivo. Desde estudantes a funcionários públicos, passando por trabalhadores do sector privado, a maior parte procura aprender português para evoluir na carreira profissional



RAQUEL CARVALHO

Há alunos que pedem para aprender receitas portuguesas, há outros que ficam encantados com as cores dos trajes folclóricos. Mas a maior parte interessa-se pela língua portuguesa por uma questão de “valorização profissional e progressão na carreira”, contam duas docentes do Centro de Difusão de Línguas ao JTM. E são muitos, cada vez mais, aqueles que procuram os cursos organizados pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). No último ano lectivo, voltaram às salas de aula para aprender português 2.562 pessoas.

Helena Chong tem 31 anos e é professora há quase 11. Cecília Leung, com 56 anos de idade, trabalha há três décadas na DSEJ e dá aulas há quase 15. Ambas conhecem as dificuldades de quem dá os primeiros passos na língua portuguesa, porque também elas tiveram que saber ultrapassá-las. “Aprender português não é fácil. A gramática é complicada. Precisamos de dar muita força aos alunos. Mas é um orgulho quando encontramos alguns estudantes, por exemplo, que vão fazer formação a Portugal e rapidamente evoluem imenso”, confessa Helena Chong.
As ratoeiras do idioma luso não têm, contudo, travado os cidadãos de Macau. São às centenas aqueles que mergulham, todos os anos, na aprendizagem da língua: enquanto que no ano lectivo de 2004/2005, os cursos do Centro de Difusão de Línguas atraíram 2.047 alunos, de lá para cá o número tem vindo sempre a crescer. À excepção do ano lectivo 2006/2007, em que houve um ligeiro recuo, os dígitos “indicam um aumento de 9 por cento” anualmente, esclarece a DSEJ, em resposta escrita ao JTM.

Com tantos interessados, a língua portuguesa não corre risco de extinção, aquilo que mudou foi tão somente o seu enquadramento. “Com certeza que sobrevive”, responde prontamente Cecília. A diferença é que “antes era obrigatório e agora é uma opção. Já não é uma língua para o ensino comum, o português tornou-se numa língua profissional”, sustenta a docente. “No início, pensei que com a transferência teríamos que mudar o tipo de ensino, mas agora vejo que há muitos interessados”, observa. Além disso, é “língua oficial do território. O domínio do idioma permite conhecer melhor as nossas duas comunidades: a chinesa e a portuguesa”. Trata-se, afinal, de “uma herança cultural”, resume Helena.

Porém, as motivações de quem procura aprender a língua de Camões são “muito distintas”. “A maior parte procura valorização profissional e pessoal, tendo em vista aceder a profissões em que o conhecimento de outras línguas seja levado em linha de conta ou para progressão dentro da profissão que exercem. Mas há também uma parte significativa de alunos que embora estejam a estudar no ensino superior, procuram nestes cursos encontrar mais um local para adquirirem, melhorarem ou simplesmente praticarem a língua portuguesa”, descreve Cecília. A DSEJ afirma não possuir “dados específicos” quanto às profissões dos alunos participantes, mas adianta que entre os inscritos estão “alunos da educação regular, funcionários públicos e trabalhadores vindos dos vários sectores privados”.

ADULTOS MAIS APLICADOS. Para além dos cursos pós-laborais, as professoras do Centro de Difusão de Línguas também se deslocam até às escolas privadas para ensinar português. Segundo Helena, “os mais jovens não têm muitas dificuldades. Alguns já dominam o inglês, o que ajuda bastante”. No entanto, é preciso saber motivá-los. “Temos que arranjar muitos materiais para atraí-los, uma vez que nas escolas a disciplina é obrigatória em alguns casos, temos que pensar em formas de envolvê-los. Fazer jogos, etc.”, explica Cecília.

Com o cair do sol, as faces mudam e as posturas também. “À noite é diferente. Estão mais concentrados nos estudos”, nota a mesma professora. Isto apesar de “não terem tempo para consolidar conhecimentos, porque têm sempre muito trabalho. Portanto, em cada aula tentamos compensar isso”. Todavia, sejam quais forem os alunos, “é sempre um desafio”, garantem ambas as docentes. “A nossa obrigação”, lembra Helena, “é fazer um esforço para chegarmos a todos”.

Segundo a professora, “os adultos são mais tímidos ao comunicarem numa língua estrangeira. Têm medo de falar mal. Pensam muito antes de se expressarem. Mas têm imensa vontade de aprender e esforçam-se muito. Revelam grande dedicação. Os jovens mostram-se mais desinibidos...Enfim, são diferentes”. De uma forma generalizada, “os alunos revelam sempre mais dificuldades na expressão oral do que na expressão escrita e muito mais na parte gramatical do que na temática”, afirmam em uníssono ambas as docentes. “Articular diálogos para eles é o mais complicado, embora Macau tenha um bom ambiente para aprender a língua. Mas praticar fora da sala de aulas não é fácil, até por uma questão de insegurança”, analisa Cecília Leung. Como ultrapassar isso? “Temos que arranjar mais actividades para praticarem as línguas”, conclui.

CULTURA DESPERTA INTERESSE. Embora a maior parte procure dominar a língua portuguesa por uma “questão profissional”, Cecília garante que quase todos revelam “grande curiosidade” pela cultura portuguesa. Independentemente do nível de aprendizagem em que se encontram, “os alunos preferem sempre os aspectos ligados com temáticas de situações do dia-a-dia e que possam ter uma aplicação prática. Simultaneamente, revelam muito interesse pelos aspectos históricos, culturais e arquitectónicos de Portugal. Procuram cada vez mais conhecer em português os nomes de ruas, lugares e pontos de interesse histórico ou turístico comuns às duas comunidades”, observa a professora.

Quanto ao nível de conhecimento prévio sobre a cultura lusa, “encontramos um pouco de tudo, já que a inscrição num determinado nível é da responsabilidade do aluno”. “Alguns deles”, relata Cecília, “nunca aprenderam português. Mas uma parte dos que chegam aqui já têm o objectivo de tirar cursos relacionados com Tradução ou Direito, e estes já possuem um certo conhecimento de português. Estão a preparar-se para o futuro”. Entre os aspectos culturais, aqueles que mais atraem são a “dança folclórica” e a culinária, dizem em uníssono as duas professoras. “Os pastéis de nata e as sobremesas em geral” fazem o maior sucesso, conta Helena. “Muitos alunos gostam mesmo de nos perguntar algumas receitas e de saber onde podem comprar bom chouriço. Alguns até nos pedem para traduzirmos algumas receitas”.

UMA NECESSIDADE E UM GOSTO. Cecília Leung é funcionária da DSEJ já lá vão três décadas, no entanto só há metade do tempo é que começou a investir no mundo da língua portuguesa. “Dava aulas na escola luso-chinesa, mas apenas na parte chinesa. Naquela altura, precisávamos sempre de arranjar intérpretes para fazer a ligação com os professores portugueses. Aí pensei e percebi que se soubesse falar melhor português poderia contactar mais facilmente com os outros docentes, os pais e as crianças”.

Enquanto que a aprendizagem, para Cecília, foi “por necessidade”, já para Helena tratou-se da concretização de um interesse despertado em pequena. “Comecei a aprender em criança, porque fui aluna de uma escola luso-chinesa. Ganhei interesse pela cultura portuguesa. Passei pelas dificuldades de aprender a língua e penso que isso me ajuda a compreender os alunos. Foi isso que, em parte, me fez ser professora”.

Quem quer aprender o idioma, basta inscrever-se no Centro de Difusão de Línguas. “O que fazemos é, com excepção ao nível inicial, um exame de admissão ao nível escolhido pela pessoa; mediante essa avaliação o aluno é ou não admitido ao curso a que se propõem”, esclarecem as docentes. Quase todas as formações têm a duração de três meses, duas vezes por semana, em horário pós-laboral. Nas escolas particulares, as horas variam de instituição para instituição. A DSEJ disponibiliza ainda cursos durante a tarde, que se centram na oralidade. “Existem muitos adultos que mantêm interesse em falar português”, assegura Helena.


Fonte: Jornal Tribuna de Macau
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