Façamos "literatura" à nossa imagem...
3 participantes
A Nossa Língua :: Geral :: Arte & Cultura :: Literatura
Página 1 de 1
Façamos "literatura" à nossa imagem...
Não sei se faço corretamente, mas que vos parece se começamos a fazer "literatura", a produzir textos que possam tornar-se em literários naquele momento "sublime" em que as autoridades competentes declarem que são textos literários?
Por exemplo, poderá ser literário um texto que trate do futuro da humanidade?
«Houve um tempo em que os homínidos, mercê do labor amoroso das homínidas, encheram o planeta Terra. Mas também o encheram com as suas estranhas ideologias, que eles denominavam pensamentos e elas, também, contaminadas nas ideologias que aqueles segregaram. Tanto foi o peso das ideologias, procreadas sem ponderação, que a Terra acabou ensumida no caos... fundida num Universo de não-ideias deslizante, a esvarar na procura de um novo big bang humano. Diziam daquela os sábios que ainda haveria hipótese, mas nenhum profeta foi quem de o vaticinar com alguma certeza.»
Por exemplo, poderá ser literário um texto que trate do futuro da humanidade?
«Houve um tempo em que os homínidos, mercê do labor amoroso das homínidas, encheram o planeta Terra. Mas também o encheram com as suas estranhas ideologias, que eles denominavam pensamentos e elas, também, contaminadas nas ideologias que aqueles segregaram. Tanto foi o peso das ideologias, procreadas sem ponderação, que a Terra acabou ensumida no caos... fundida num Universo de não-ideias deslizante, a esvarar na procura de um novo big bang humano. Diziam daquela os sábios que ainda haveria hipótese, mas nenhum profeta foi quem de o vaticinar com alguma certeza.»
AGIL- Mensagens : 88
Data de inscrição : 26/12/2010
Mais conto e ... mais literatura?
Nas democracias "avançadas", ocidentais, tudo é democrático.
Por exemplo, decido livremente sair da casa para passear. E saio. E mesmo posso passear sem incomodo de nenhum e a nenhum. Eis um caso, nada surpreendente, de exercício democrático, ocidental.
Noutro momento prefiro escutar música clássica, de defuntos, e ninguém mo impede na casa. Ou quase ninguém. Eis outro caso, também não surpreendente, de exercício democrático.
Enxergo que os governantes que nos governam, acaso sejam corruptos, talvez se deixem comprar e quiça se vendam barato, ao meu custo, ao custo dos governados. Mas apenas enxergo: Portanto, democraticamente não posso acusá-los, enquanto não provar que os são. Eles, pela sua parte, procuram democraticamente impedir que os cidadãos possamos provar nenhuma das acusações prováveis, que dessarte ficam sendo improváveis... democraticamente.
Consequentemente, achamo-nos mergulhados nas vantagens das democracias "avançadas", ocidenais, de toda elas e de cada uma em particular. Perfeito!
Por exemplo, decido livremente sair da casa para passear. E saio. E mesmo posso passear sem incomodo de nenhum e a nenhum. Eis um caso, nada surpreendente, de exercício democrático, ocidental.
Noutro momento prefiro escutar música clássica, de defuntos, e ninguém mo impede na casa. Ou quase ninguém. Eis outro caso, também não surpreendente, de exercício democrático.
Enxergo que os governantes que nos governam, acaso sejam corruptos, talvez se deixem comprar e quiça se vendam barato, ao meu custo, ao custo dos governados. Mas apenas enxergo: Portanto, democraticamente não posso acusá-los, enquanto não provar que os são. Eles, pela sua parte, procuram democraticamente impedir que os cidadãos possamos provar nenhuma das acusações prováveis, que dessarte ficam sendo improváveis... democraticamente.
Consequentemente, achamo-nos mergulhados nas vantagens das democracias "avançadas", ocidenais, de toda elas e de cada uma em particular. Perfeito!
AGIL- Mensagens : 88
Data de inscrição : 26/12/2010
Re: Façamos "literatura" à nossa imagem...
A literatura, como as democracias ocidentais...
Sempre me chamou a atenção a expressão «isso é literatura...!» para definir algo que apesar de estar escrito ou ter sido dito de alguma maneira, não é sério, mas enganoso. As artes todas, e entre elas incluo naturalmente a literatura, são certamente ilusionismo, mágica, maneiras de construir pequenos objetos, normalmente imaginários, que mexem o interior das pessoas de maneira desigual, dependendo da capacidade da pessoa para se mover com eles.
Esses "objetos" ou obras de arte desenvolvem-se manipulando diferentes matérias e materiais: A pintura com as cores e as proporções visuais, a música com os sons e as proporções rítmicas, a literatura com as palavras, os conceitos e o discurso linguístico. Etc. A matéria da literatura, a língua, faz dessa arte uma arma magnífica de ilusionismo. Todos os artistas são um pouco atores e atrizes de teatro.
Mas isso não significa que sejam uns estafadores. Ser um estafador é algo bem diferente de ser um artista. Um estafador pode ser artista ou não sê-lo, pode ser banqueiro, pode ser ladrão, mas, sim, também pode ser artista e escrever uma novela que é uma estafa de arriba a abaixo.
Parece-me entender isso na expressão «isso é literatura...!», como se essa arte tivesse sido numerosas vezes profanada por estafadores, de maneira que consolidou no falar do povo, sempre tão sério, a percepção do engano.
Nesse sentido a literatura de estafadores seria como as democracias ocidentais das que falavas... não?
Sempre me chamou a atenção a expressão «isso é literatura...!» para definir algo que apesar de estar escrito ou ter sido dito de alguma maneira, não é sério, mas enganoso. As artes todas, e entre elas incluo naturalmente a literatura, são certamente ilusionismo, mágica, maneiras de construir pequenos objetos, normalmente imaginários, que mexem o interior das pessoas de maneira desigual, dependendo da capacidade da pessoa para se mover com eles.
Esses "objetos" ou obras de arte desenvolvem-se manipulando diferentes matérias e materiais: A pintura com as cores e as proporções visuais, a música com os sons e as proporções rítmicas, a literatura com as palavras, os conceitos e o discurso linguístico. Etc. A matéria da literatura, a língua, faz dessa arte uma arma magnífica de ilusionismo. Todos os artistas são um pouco atores e atrizes de teatro.
Mas isso não significa que sejam uns estafadores. Ser um estafador é algo bem diferente de ser um artista. Um estafador pode ser artista ou não sê-lo, pode ser banqueiro, pode ser ladrão, mas, sim, também pode ser artista e escrever uma novela que é uma estafa de arriba a abaixo.
Parece-me entender isso na expressão «isso é literatura...!», como se essa arte tivesse sido numerosas vezes profanada por estafadores, de maneira que consolidou no falar do povo, sempre tão sério, a percepção do engano.
Nesse sentido a literatura de estafadores seria como as democracias ocidentais das que falavas... não?
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Ironia... literária
Disse ele:
—Vou escrever um conto certo... Não, certo não, mas verdadeiro.
E ficou contente, os dedos sobre o teclado e a imaginação perdida. São os mistérios do computador manuseável...
Ela respondeu:
—Se é conto, não pode ser nem certo nem verdadeiro.
—Com certeza, mas podemos... posso fingir que o que narro aconteceu verdadeiramente nalgum tempo de algum lugar entre gentes certas...
Perplexo, calou. Ela, nada perplexa, afirmou... firmou:
—Eis a verdade do conto: o facto, fingido, de não ser verdade. Nisso estou certa. O conto certo é o relato incerto...
Fora, chovia... ou talvez não chovesse, mas parecia chover, como o beijo certo que, amorosos, lançaram, amantes, à incerteza.
—Se não os conhecesse, diria que tentam ser escritores de literatura certa... mesmo com a sua vida.
Opinava, em silêncio, o cliente da cafetaria que, tímido, os espiou desde o início dos tempos, dos seus tempos, dela, dele, do cliente.
—Vou escrever um conto certo... Não, certo não, mas verdadeiro.
E ficou contente, os dedos sobre o teclado e a imaginação perdida. São os mistérios do computador manuseável...
Ela respondeu:
—Se é conto, não pode ser nem certo nem verdadeiro.
—Com certeza, mas podemos... posso fingir que o que narro aconteceu verdadeiramente nalgum tempo de algum lugar entre gentes certas...
Perplexo, calou. Ela, nada perplexa, afirmou... firmou:
—Eis a verdade do conto: o facto, fingido, de não ser verdade. Nisso estou certa. O conto certo é o relato incerto...
Fora, chovia... ou talvez não chovesse, mas parecia chover, como o beijo certo que, amorosos, lançaram, amantes, à incerteza.
—Se não os conhecesse, diria que tentam ser escritores de literatura certa... mesmo com a sua vida.
Opinava, em silêncio, o cliente da cafetaria que, tímido, os espiou desde o início dos tempos, dos seus tempos, dela, dele, do cliente.
AGIL- Mensagens : 88
Data de inscrição : 26/12/2010
Duas cuncas da autora
Uma mesa, e na mesa duas mãos, morena e branca, entrelaçadas.
Dous olhares verde-avelãs dançam uma valsa infinita.
Ela replica:
- Não importa se o amor é verdade ou mentira, certo ou falso. Todos os amores são falsos e certos. Também as realidades são falsas e certas, como os amores. A realidade é o amor maior.
Ele, confuso, murmura:
- Ah... Pensei que falávamos de se era conto ou não...
Ela responde:
- Meu amor, nada é certo até que não se defende com o coração.
Então ele retorna, palpitante:
- Vou-te contar um conto...
E enquanto fala entrelaçam as mãos, perdendo-se no dançante infinito verde-avelã.
De tudo isto foi testemunha a mesa e pouco mais.
Dous olhares verde-avelãs dançam uma valsa infinita.
Ela replica:
- Não importa se o amor é verdade ou mentira, certo ou falso. Todos os amores são falsos e certos. Também as realidades são falsas e certas, como os amores. A realidade é o amor maior.
Ele, confuso, murmura:
- Ah... Pensei que falávamos de se era conto ou não...
Ela responde:
- Meu amor, nada é certo até que não se defende com o coração.
Então ele retorna, palpitante:
- Vou-te contar um conto...
E enquanto fala entrelaçam as mãos, perdendo-se no dançante infinito verde-avelã.
De tudo isto foi testemunha a mesa e pouco mais.
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Ah, as mãos a brincarem...
As mãos... Especializadas, cada uma, em cinco dedos. Reduzidas a duas, apenas, em vez das quatro dos nossos predecessores.
Chegam, mas não alcançam. Os olhos e os desejos costumam ser mais abrangentes.
Mas, quando as mãos apertam ou acariciam ou simplesmente envolvem... Ó que gozo e êxtase podem cumprir...!
Chegam, mas não alcançam. Os olhos e os desejos costumam ser mais abrangentes.
Mas, quando as mãos apertam ou acariciam ou simplesmente envolvem... Ó que gozo e êxtase podem cumprir...!
AGIL- Mensagens : 88
Data de inscrição : 26/12/2010
Nação
Houve, caros meninos, um tempo em que a gente tinha nação, porque nascia, e nascia bem. Em Breogão.
Depois chegaram uns invasores mal nascidos, não nascidos quase,... nascidos mal. "Bregantes" eles... Como proclamavam, fantasiosos, carecer de nação, procuravam que desaparecessem, com a sua nação, todos os bons nascidos.
Paradoxalmente, ao tempo, incutiam nos novos, coma vós, a espécie de que a história da não-nação era a única nacional e verdadeira. Cousas!
Depois chegaram uns invasores mal nascidos, não nascidos quase,... nascidos mal. "Bregantes" eles... Como proclamavam, fantasiosos, carecer de nação, procuravam que desaparecessem, com a sua nação, todos os bons nascidos.
Paradoxalmente, ao tempo, incutiam nos novos, coma vós, a espécie de que a história da não-nação era a única nacional e verdadeira. Cousas!
AGIL- Mensagens : 88
Data de inscrição : 26/12/2010
Re: Façamos "literatura" à nossa imagem...
Não esqueçam os moços e moças leitores e leitoras do conto anterior que os mal nascidos invasores nunca teriam conseguido proclamar a sua não-nação de não ser pelos bons nascidos que venderam o seu nascimento ao diabo.
Moral: Quem nasce mal pouco tem a fazer para além de ser mal nascido. Mas quem vende o seu bom nascimento ao mal nascido é digno de todos os malefícios.
Moral: Quem nasce mal pouco tem a fazer para além de ser mal nascido. Mas quem vende o seu bom nascimento ao mal nascido é digno de todos os malefícios.
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Re: Façamos "literatura" à nossa imagem...
O pior não são os dias como hoje,
mas as saudades cravadas
na garganta dos dias
como hoje...
Isabel- Mensagens : 276
Data de inscrição : 25/12/2010
Re: Façamos "literatura" à nossa imagem...
O melhor não são os dias como hoje,
mas as janelas abertas
no infinito dos dias
como hoje...
mas as janelas abertas
no infinito dos dias
como hoje...
cdurão- Mensagens : 302
Data de inscrição : 26/12/2010
Tópicos semelhantes
» A Nossa Língua no Facebook
» História da nossa língua
» Outro ataque a nossa língua desde o ngoverno
» História da nossa língua
» Outro ataque a nossa língua desde o ngoverno
A Nossa Língua :: Geral :: Arte & Cultura :: Literatura
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
|
|